Um poeta morreu sufocado pelas palavras.
Numa tarde quente, numa rua indiferente,
artéria comercial.
Caiu no meio da multidão
que anda sempre em frente
que as ruas são para gente,
que caminha com os pés
e sabe e tem direcção.
Não para quem procura palavras no vento
segue uma voz dentro e anda pisando,
pensamentos e coração.
Alguém disse parando e apontando
o poeta que no chão jazia:
coitado, morreu de repente, teve alguma apoplexia.
Ninguém viu a verdade naquela tarde quente,
rua indiferente,
Multidão com veias e artérias comerciais.
Ninguém viu o rio de saliva
que da boca do poeta corria.
Que o líquido ardente que o chão inundava,
e pisavam,
Eram as palavras que o sufocado perseguia
O último verso,
a última poesia...
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