Um dia comentaste comigo que nunca olhava para trás quando me despedia de ti, o que não corresponde à realidade, mas, ontem, decidi acompanhar o teu percurso meio apresado de quem não quer perder o barco.
Acompanhei-te e quando te perdi de vista, acendi um cigarro, liguei o MP3 para recordar as músicas à pouco ouvidas numa Sala e deixei-me ficar.
Avistei o teu barco e deixei-me ficar.
Fiquei ali a fumar cigarros e a ver o tempo passar.
Fiquei ali a ver as outras pessoas na azafama das suas vidas.
Vi turistas e solitários que como eu precisavam de estar perto da água.
Ver e estar.
Ficar.
Depois, lentamente, dirigi-me para a paragem, abriguei-me do vento e mais uma vez esperei.
Observei as estátuas do Arco em restauro.
E elas com os olhos cansados de verem histórias, olhavam para mim com um ar de compreensão que me levaram a outros tempos.
Entrei no último autocarro e segui para casa.
Ela dizia que eu só podia ser louca em andar por Lisboa às tantas da manhã sozinha.
Mas quem na realidade irá fazer mal a uma louca como eu? Medo do quê?
Nós, os solitários temos a mesma linguagem silenciosa e é só nestes momentos em que Lisboa serve para nos acompanhar e acalmar.
Eu, precisava de ter uma noite calma.
E senti-me mais calma...
2 Comments:
Custa muito (ter que) olhar para trás.
Dói que se farta!
Penso exactamente de forma contrária.
Olhar deverá ser um acto tão natural quanto respirar, beber um copo de água, sentir.
Custa muito mais olhar e não ser olhado...mas ainda assim, não sentir de todo...ora aí está o abismo existencial de tudo o que poderíamos ter sido...e ficou por cumprir.
...mas...o que sei eu?...
Enviar um comentário
<< Home