terça-feira, outubro 19, 2004

Só o sangue cheira a sangue

Eu torno-me cada vez mais dócil,
e tu sempre misterioso e novo,
mas teu amor, meu severo amigo,
é uma prova de ferro e fogo.

Proíbes-me de cantar, sorrir,
e há muito tempo de rezar,
desde que não me aparte de ti,
todo o resto me é igual!

Assim, alheia à terra e ao céu,
já não canto, apenas vivo.
Minha alma livre arrancaste
do inferno e do paraíso.


[1917] Anna Akhmátova