quarta-feira, março 22, 2006

Há-de flutuar uma cidade


Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade


Al Berto

1 Comments:

At sexta-feira, março 24, 2006 9:01:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ouvi esse poema vezes sem conta no cd dos "Poetas" que foi lançado há uns anos.

Esteve quase para ser a minha escolha para o meu blog no dia mundial da poesia (mas não foi).

Esse poema tem-me acompanhado ao longo dos anos. Também há muito de mim nessas palavras...

beijinhos

 

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